A união desses dois conceitos é essencial para a compreensão da justiça divina e do processo evolutivo do Espírito:

1. Explicação da Justiça e das Desigualdades

Sem a reencarnação, muitas das aparentes injustiças e desigualdades na Terra seriam inexplicáveis. Por que alguns nascem em berço de ouro com talentos inatos, enquanto outros vêm ao mundo em condições de miséria e sofrimento, ou com limitações físicas e mentais? A Lei de Causa e Efeito, operando através da reencarnação, oferece a resposta:

Herança do Passado: As condições atuais de um Espírito são a consequência das ações e escolhas feitas em vidas passadas. Um sofrimento presente pode ser a “colheita” de uma “semeadura” inadequada em uma existência anterior.

Conforme O Livro dos Espíritos, Questão 984:

“As vicissitudes da vida são sempre a punição das faltas atuais? ‘Não; já dissemos: são provas impostas por Deus, ou que vós mesmos escolhestes como Espíritos, antes de encarnardes, para expiação das faltas cometidas em outra existência, porque jamais fica impune a infração das leis de Deus e, sobretudo, da lei de justiça. Se não for punida nesta existência, sê-lo-á necessariamente noutra. Eis porque um, que vos parece justo, muitas vezes sofre. É a punição do seu passado.'”

Oportunidade para Todos: Se Deus é justo e bom, não poderia haver filhos prediletos. A reencarnação garante a todos, sem exceção, a chance de aprender, retificar erros e alcançar a perfeição, independentemente do ponto de partida de uma existência específica.

E mais: Se Deus é justo e bom, Ele não poderia criar almas com destinos predeterminados de felicidade ou sofrimento, nem com aptidões e inteligências tão desiguais. A reencarnação, como um processo de múltiplas existências, garante a todos a oportunidade de aprender, progredir e resgatar seus erros.

2. Mecanismo de Expiação e Provas

A reencarnação serve como o ambiente para a expiação e as provas do Espírito:

Expiação: É a reparação das faltas cometidas. O Espírito pode reencarnar em condições que o levem a experimentar as consequências diretas de seus atos passados, desenvolvendo a empatia e o aprendizado sobre o mal que causou. Por exemplo, um opressor pode reencarnar em posição de subordinação ou sofrimento.

Provas: São os desafios que o Espírito escolhe ou aceita para desenvolver suas virtudes, fortalecer sua vontade e acelerar seu progresso. As provas podem ser de natureza moral, intelectual ou material, e cada uma delas tem o objetivo de impulsionar o Espírito para frente.

O Livro dos Espíritos, questão 167, pergunta:

“Qual o fim objetivado com a reencarnação? ‘Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isto, onde há justiça?'”

3. O Véu do Esquecimento: Misericórdia e Progresso

A Lei de Causa e Efeito poderia ser insuportável se tivéssemos plena lembrança de todas as nossas vidas passadas e dos erros cometidos. O véu do esquecimento é um ato de misericórdia divina que se conjuga com a reencarnação para facilitar o progresso.

Foco no Presente: Ao esquecer os detalhes do passado, o Espírito pode se concentrar nas lições da vida presente, sem ser paralisado pelo remorso de erros antigos ou pelo orgulho de conquistas passadas.

Neutralização de Relações Conflituosas: Permite que Espíritos que foram desafetos em vidas anteriores possam reencarnar em laços familiares ou sociais, com a oportunidade de harmonizar suas relações sem o peso das lembranças de antigos ressentimentos.

E ainda: Esse esquecimento permite que o Espírito se concentre nas provas e expiações da vida atual sem o peso do passado, evitando orgulho excessivo por conquistas anteriores ou desespero por erros graves. Também facilita as relações sociais, impedindo que inimizades passadas prejudiquem o convívio presente.

4. O Progresso Contínuo

A Lei de Causa e Efeito, através da reencarnação, garante a progressão contínua e infinita do Espírito. Cada nova existência é um novo ponto de partida, onde o Espírito tem a chance de se aprimorar.

Sem Retrocesso: O Espiritismo difere de outras doutrinas ao afirmar que o Espírito humano não retrocede para formas animais. O progresso é sempre ascendente, embora a velocidade dependa do livre-arbítrio e do esforço individual.

“As diferentes existências corpóreas do Espírito são sempre progressivas e nunca regressivas; mas, a rapidez do seu progresso depende dos esforços que faça para chegar à perfeição.” (Elucidações do Além, Hercílio Maes, Ramatís, p. 160)

Atingir a Perfeição: O objetivo final é a perfeição, o estágio dos Espíritos Puros, onde não há mais necessidade de reencarnar em mundos de provas e expiações. Esse processo, embora longo, é acessível a todos.

5. O Papel do Livre-Arbítrio na Conjugação

Mesmo diante das consequências geradas pela Lei de Causa e Efeito em vidas passadas, o livre-arbítrio do Espírito é soberano em cada nova encarnação. O Espírito não é um autômato; ele decide como reagir às provas e expiações. A aceitação resignada ou a revolta, o esforço no bem ou a estagnação, tudo isso influenciará a natureza das próximas “causas” e, consequentemente, dos “efeitos” futuros.

A conjugação da Lei de Causa e Efeito com a Teoria da Reencarnação, no contexto da Doutrina Espírita, oferece uma visão holística e profunda da vida. Ela explica as complexidades da existência, o propósito do sofrimento, a diversidade humana e a justiça divina, tudo isso enquanto aponta para um futuro de progresso, esperança e a inevitável chegada de todos à perfeição.

6. A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória

Qual a diferença entre a Lei de Causa e Efeito e o conceito de Karma de outras religiões espiritualistas?

A frase “A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória” é, de fato, a síntese perfeita e mais conhecida da Lei de Causa e Efeito na Doutrina Espírita. Ela encapsula a ideia de que possuímos livre-arbítrio para escolher nossas ações (a “semeadura”), mas que as consequências dessas ações (a “colheita”) são inerentes e inevitáveis. Essa colheita pode se dar nesta vida ou em futuras existências, revelando a intrínseca ligação com a reencarnação.

Embora o princípio de que “toda ação gera uma reação” seja universal em muitas filosofias e religiões, as nuances da Lei de Causa e Efeito no Espiritismo apresentam diferenças significativas em relação ao conceito de Karma de outras tradições espiritualistas, como o Hinduísmo e o Budismo. Vamos explorar essas distinções em profundidade.

Fonte: Pesquisa da Equipe Um Caminho