Auto-conhecimento, Reforma Íntima

Por que a Reforma Íntima é a base da salvação?

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A Reforma Íntima é um conceito central na Doutrina Espírita, que se refere a um processo contínuo e gradual de aprimoramento moral e espiritual do indivíduo. Não se trata de uma mudança superficial, mas de uma transformação profunda e consciente do ser.

1. O que é a Reforma Íntima?

Conforme explicado no Livro “Reforma Íntima Sem Martírio”, de Wanderley Oliveira, pelo Espírito Ermance Dufaux, a reforma íntima é um “trabalho processual”, ou seja, algo que obedece a uma sequência e que se desenvolve ao longo do tempo. Ela envolve a habilidade de lidar com as características da personalidade, buscando aprimorar traços como o caráter, o temperamento, os valores, os hábitos e os desejos.

É um serviço gradativo de instauração das virtudes celestiais, que visa à aquisição da consciência do tesouro divino que todos possuímos. O objetivo maior não é a anulação de uma parte de nós que consideramos “ruim”, mas sim a melhoria de nós mesmos, buscando a felicidade. Trata-se de uma jornada de autoconsciência, onde o indivíduo aprende a “ser, a existir, a se realizar como criatura rica de sentidos e plena de utilidade perante a vida”. Em essência, é ser melhor hoje do que ontem, e ter o desejo constante de ser um pouco melhor amanhã do que hoje.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, a reforma íntima é implicitamente ligada à “transformação moral” que caracteriza o verdadeiro espírita, buscando a perfeição relativa que a humanidade pode alcançar, inspirada na perfeição do Pai celestial. O amor e a caridade são os pilares dessa transformação, e a fé é a força que impulsiona o desabrochar das faculdades divinas latentes no ser.

2. Por que a Reforma Íntima é tão difícil?

A dificuldade em realizar a reforma íntima reside em diversos fatores, muitos deles enraizados na própria natureza humana e nas ilusões que cultivamos:

O Ego e o Interesse Pessoal: O maior obstáculo é o “interesse pessoal, o conjunto de viciações do ego repetido durante variadas existências corporais e que cristalizaram a mente nos domínios do personalismo” (Reforma Íntima Sem Martírio, p. 3). O hábito de atender incondicionalmente aos desejos e aspirações pessoais nos escraviza, tornando difícil a libertação do “império do eu”.

Más Interpretações e Autopunição: Muitas vezes, a ideia de reforma íntima é erroneamente associada à anulação de sentimentos ou à repressão, o que pode gerar “tortura interior” e um doloroso processo de martírio a si mesmo (Reforma Íntima Sem Martírio, p. 5, 13). A culpa, por exemplo, “não renova, limita. Não educa, contém” (Reforma Íntima Sem Martírio, p. 5).

Cobrança Excessiva e Perfeccionismo: A “neurotização da virtude” leva a hábitos radicais e superficiais, distanciando da autêntica mudança. A exigência excessiva consigo mesmo gera angústia, e a busca por uma “perfeição imediata” é uma ilusão que impede o progresso real (Reforma Íntima Sem Martírio, p. 22, 28).

A Ilusão das Aparências e a Hipocrisia: A tendência de aparentar o que não se é, buscando aprovação social, cria uma “autoimagem falsa e superdimensionada” (Reforma Íntima Sem Martírio, p. 101). Essa hipocrisia impede o verdadeiro autoconhecimento e a aceitação das próprias imperfeições.

Falta de Autoconhecimento Genuíno: A ausência de ideias claras sobre si mesmo leva a conflitos mentais e ao martírio. É preciso coragem para “olhar para o desconhecido mundo interior, vencer as ‘camadas de orgulho do ego’, superar as defesas que criamos para esconder as ‘sombras'” (Reforma Íntima Sem Martírio, p. 93).

Materialismo e Apego aos Prazeres Transitórios: A humanidade moderna, “exclusivamente preocupada com a saúde e a eficiência do seu equipo orgânico, procura extrair dele o máximo de gozo e prazeres ilusórios” (O Evangelho à Luz do Cosmo, p. 1). O apego aos bens e valores materiais, e a busca incessante por satisfações efêmeras, dificultam o desprendimento necessário para a elevação espiritual.

Persistência de Instintos Primitivos: Apesar do avanço tecnológico e intelectual, grande parte da humanidade ainda age de modo “cruel, cínico, brutal, desregrado, desonesto e imbecil”, características que remetem ao “homem das cavernas” (O Evangelho à Luz do Cosmo, p. 1). A luta contra esses instintos arraigados é constante e árdua.

Rebeldia e Desânimo: A forma “revoltante de reagir perante os convites renovadores” pode agravar a prova íntima, levando a dores emocionais acerbas (Reforma Íntima Sem Martírio, p. 53). O desânimo, que é o desejo de parar, surge da desconexão entre o desejo de ser melhor e a dificuldade em agir, gerando um “estado de pane” (Reforma Íntima Sem Martírio, p. 88).

A Dificuldade da Caridade e do Amor ao Próximo: Embora Jesus tenha ensinado a caridade como mandamento maior, praticá-la verdadeiramente, sem egoísmo e com abnegação, é um desafio constante. O orgulho e o egoísmo são “a fonte de todos os males” e “o maior obstáculo ao progresso”. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. X, Item 10; O Livro dos Espíritos, Q785).

A Reforma Íntima, portanto, é uma jornada que exige persistência, humildade, autoconhecimento e, acima de tudo, a prática do amor e da caridade. É um processo que se estende por múltiplas existências, pois a transformação profunda não se dá por “saltos evolutivos” ou por simples adesão a práticas exteriores, mas por um esforço contínuo e sincero de burilamento do espírito.

Fonte: texto adaptado com base no Livro Reforma Íntima Sem Martírio, de Wanfeley Oliveira, pelo Espírito Ermance Dufaux.

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COMENTÁRIOS RECENTES

  1. Sérgio Luiz de Oliveira em Quem Somos

    Gostaria de ter esses ensinos impresso

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