Doutrina Espírita, Instrução dos Espíritos

Devemos acreditar em almas gêmeas?

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Afetividade 

Das formas míticas poderemos retirar a sabedoria dos séculos, porquanto tais histórias promovem encontros com as figuras arquetípicas de nossa alma e com o caminho do desenvolvimento do amor. Da antiga Grécia nasceu a ideia das metades eternas, que percorreu a vastidão dos tempos.

A mitologia greco-romana nos transmite, por meio de autores da Antiguidade, a seguinte história: “Em uma diferente civilização, os seres possuíam duas cabeças, quatro braços e pernas e dois corpos distintos – masculino e feminino – mas com apenas uma alma… Viviam em pleno amor e harmonia, e justamente esse equilíbrio provocou inveja e a ira de alguns deuses do Olimpo. Enfurecidos, enviaram àquela civilização uma tormenta repleta de trovões e relâmpagos, que dividiram os corpos, separando a parte feminina da masculina e repartindo a alma ao meio… Diz a lenda que até hoje os seres lutam na busca de sua outra metade, a sua alma gêmea”.

Durante séculos, essa crença foi cultivada, e grande parte da humanidade ainda procura ansiosamente encontrar sua “alma afim”. No entanto, com a Nova Revelação, vêm os Espíritos superiores esclarecer-nos a respeito do conceito das metades eternas, ensinando-nos que essa expressão é inexata e que não existe união particular e fatal entre duas almas.

Explicam-nos os Benfeitores que não há alianças predestinadas, e sim que, quanto mais iluminadas as almas, mais unidas serão pelos laços do amor real. Em vista disso, podemos entender perfeitamente o significado das palavras de Jesus Cristo: “Haverá um só rebanho, um só pastor”.

Um dia todos nós estaremos juntos, reunidos e plenificados uns com os outros em “um só rebanho”.

O Espiritismo vai mais além quando nos explica que a nossa mentalidade sobre as almas gêmeas é exclusivamente alicerçada sobre uma visão romântica de união afetiva; na realidade, antes de sermos homens ou mulheres, somos Espíritos imortais vivendo temporariamente na Terra. Muitos possuem uma compreensão difusa e narcisista sobre o amor, o que faz com que interpretem sua afetividade somente abaixo da cintura, isto é, não conseguem desenvolver seus sentimentos, abandonando-os a um permanente estado embrionário.

“(…) não existe união particular e fatal entre duas almas. A união existe entre todos os Espíritos, mas em graus diferentes segundo a categoria que ocupam, quer dizer, segundo a perfeição que adquiriram: quanto mais perfeitos, mais unidos (…)” (1)

Estamos vivenciando inúmeras experiências terrenas com as mais diversas criaturas; conhecendo e, ao mesmo tempo, estreitando elos afetivos com outras tantas através de várias encarnações. Então, por que alimentarmos a ideia da busca ilusória de uma pessoa predeterminada, com a qual fatalmente viveríamos felizes pela eternidade juntamente com os outros tantos milhares de pares eternos que já se teriam encontrado anteriormente? Tudo isso mais se assemelha a um egotismo do amor, contrário à fraternidade cristã, que nos ensina que um dia todos se amarão de forma incondicional.

Os aspectos do amor não podem ser vistos como se nosso “eu” seja o único referencial e que qualquer coisa que não se enquadre em nosso modo de ser seja rotulada de desamor ou de “não ser nossa metade eterna”.

Enquanto estivermos pensando dessa maneira, não amaremos verdadeiramente; estaremos, sim, criando uma “idealização amorosa”, na ânsia de que os outros jamais ousem discordar de nosso ponto de vista. Em outras palavras, se alguém divergir da nossa opinião, teremos a certeza de que não é nossa “alma gêmea” e, por consequência, nunca poderá nos proporcionar o amor real, o que será um grande equívoco.

Amar não significa esperar que alguém nos satisfaça todos os anseios e necessidades que cabe só a nós satisfazer.

Fonte: extraído do livro “Os prazeres da alma”, de Francisco do Espírito Santo Neto, ditado por Hammed. Editora Boa Nova.

(1) Questão 298 do Livro dos Espíritos.

 

 

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